quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Testemunho parte I




É a hora da verdade! Tem tempo que me preparo para isso. Falar e escrever sobre nossas falhas não é fácil,  mas me anima muito saber que a minha dor e toda a transformação que vivi pode gerar mudanças em histórias de outras pessoas.

Conheci meu marido em 2008, eu era professora de educação física na academia onde ele malhava. Entre um olhar e outro acho que ele se apaixonou pelos meus olhos verdes (risos). Saímos para tomar um suco e começou todo o envolvimento. No mesmo mês assumimos o namoro.

Ele é muito diferente de mim. Sabe aquela história de que os opostos se atraem? Pois é... Água e vinho, suco de groselha e vodka. Eu, muito comunicativa, professora de educação física, empreendedora e ele, introvertido, servidor público e muito "pé no chão". Mesmo assim nos casamos após 1 ano e meio de namoro.

Antes de casarmos na igreja e papel, segundo ele já éramos casados. E de fato é uma verdade. Logo que começamos a namorar meus pais foram embora de Brasília, morar em Vitória. Fiquei morando com minhas irmãs, mas não deu muito certo, uma delas se mudou para Vitória, voltou para a casa dos meus pais e a outra foi morar com sua madrinha. Me mudei para um apartamento ao lado da casa da família dele, onde eu tinha todo suporte e estava perto do meu amado. Éramos praticamente casados, ele só não dormia no meu apartamento todos os dias porque sempre foi um homem muito correto com princípios e valores. Passamos a compartilhar vidas e projetos e nesse embalo ele comprou o meu sonho, a minha loja.

Como disse sou muito empreendedora, cresci vendo meus pais em comércio e por muito tempo trabalhei em lojas como vendedora e gerente. Fiz muitos cursos na área e adoro gerenciar pessoas, criar marcas, estudar públicos, enfim é uma das minhas paixões carnais. Adoro abrir empreendimento e fazê-lo frutificar. E nessa embarcamos de cabeça na minha loja.

A loja ganhou nome, local, seguimento e foi nascendo... Em pouco tempo a Santa Ousadia estava no mercado de portas abertas e cheia de sonhos.

Eu me envolvi demais com o negócio e ao mesmo tempo em que trabalhava para a loja crescer eu estava em momento de noivado, reforma de apartamento e etc. Mas meus olhos só davam atenção à loja. Sabe quando seu filho nasce? Parece que o mundo acabou. Pelo menos eu pensava que tinha que ser assim, atenção integral ao seu bebê e tadinho do maridão... Foi bem por aí. O pior nem foi isso, pois descobri que eu tenho de empreendedora, ousada, vendedora, líder eu não tenho de administradora financeira. A empresa abriu bem, vendia legal considerando o local, tempo, estávamos caminhando dentro das expectativas do mercado. O nosso erro foi abrir sem ter reserva e as minhas finanças eram uma bagunça, abrimos e como todo início surgiram gastos maiores que o faturamento e sem organização e planejamento financeiro começamos a tirar dinheiro de outros projetos como casamento, apartamento, viagens, etc... Eu sempre acreditei que era uma fase, eu entendia isso, mas ele não, então começaram os problemas. Com menos de 6 meses de loja, nos casamos. Eu, ele e dívidas. Uma péssima maneira de começar a vida a dois.

Nesses 6 meses iniciais, a empresa foi mudando um pouco o perfil, o que era uma loja de lingerie, passou a ser uma loja de lingerie com sex shop, cursos eróticos, serviços de despedida de solteira, chá de lingerie, ensaios sensuais, etc... Tudo que a minha cliente buscava eu me reorganizava para atender e era sucesso. Eu passei a dar entrevistas para jornais, sites, revistas e até que cheguei até as rádios para falar de sensualidade e produtos eróticos. Passei a ter um meio social muito liberal e sem que eu percebesse passei a viver e respirar o mercado sensual. Tenho certeza que toda essa imagem que eu oferecia o machucava. Hoje eu vejo isso, naquela época pra mim era um trabalho como qualquer outro. Eu achava um máximo!

Casados e com dívidas, passei a trabalhar ainda mais. Comecei a fazer eventos de quinta a domingo e a assumir trabalhos como buffet para as festas. Então eu tinha uma rotina muito louca, acordava às 7:00 da manhã para conseguir fazer as coisas necessárias para os eventos, eu fazia da arte para os convites até as lembrancinhas, comida, animação, decoração etc... Sem falar que eu era o financeiro e gerente da loja, então eu ia ao banco pagar contas, tinha que ficar um período da loja motivando as vendedoras e desenvolvendo novos serviços, estratégias de vendas e publicidade. E ainda era eu que ia para a rua buscar parceiros para divulgação da loja... ufa, chegava em casa geralmente 21, 22:00h. E meu marido já estava lá desde às 18:00h, sem ter o que comer e com a casa de cabeça para baixo. Eu não tinha tempo mesmo para ser esposa. Quando tinha evento eu costumava chegar em casa depois das 2 da manhã e ele já estava dormindo.E no fim de semana eu trabalhava ainda mais.

Eu não tinha ideia do que estava construindo, na minha cabeça só tinha uma meta louca de pagar as contas e mostrar para o meu marido que eu poderia ser bem sucedida. Me lembro de momentos de estafa, exausta, mas eu não parava. Essa é uma característica minha: batalho, sou guerreira, muito bem disposta. Se eu vestir a camisa já era, terão que me aguentar! Mas fiquei cega, pois só via a minha meta, e muita vezes “rezava” naquela época eu rezava, e falava: “Deus, eu sei que o Senhor vê o meu esforço e vai me honrar!” Nossa, quando eu penso hoje, vejo o tamanho da minha ignorância... Acho que nesse momento Deus fazia uma cara de tristeza, de decepção e o diabo ria, dava gargalhadas.

Claro que diante de um quadro desses dificilmente um casamento seria algo bom. Eu literalmente competia e media forças com o meu marido diariamente. Não tínhamos um lar aconchegante e pouco desfrutávamos da companhia e carinho um do outro. Com 3 meses de casados passamos a ter discussões e nos ferir com palavras. Em alguns momentos tentávamos nos ajustar e em outros tínhamos convicção que era loucura continuarmos casados. Começamos a pedir socorro, socorro para amigos, socorro para psicólogos e socorro em religiões. Como eu tinha dito no texto “Prova de Fogo” postado aqui no Blog, tivemos as mais diversas opiniões. A psicóloga que estava me  acompanhando me convenceu que eu via meu marido como pai e que eu não o amava, amava a proteção que ele me oferecia. Os amigos tentavam ajudar, mas com pouca sabedoria. Dependendo das situações vividas eles mudavam de opinião e é aquela velha história, lambiam nossas feridas e falavam o que queríamos ouvir. Ficamos bem perdidos, sofríamos muito, a cada dia, a dor e a vontade de largar tudo só aumentava.

Na minha cabeça eu pensava assim: casamento é coisa do d... a minha loja, apesar das dívidas vai bem, tá legal, tá crescendo, tinha propostas para começar a vender franquias, então dava pra crescer e reconstruir uma nova fase. Eu podia provar que ia dar certo. Então entre casamento e loja. Claro, loja!

E com essas doces palavras eu dei a notícia ao meu marido que ia procurar um lugar para mim e seguir em frente.

Amanhã parte II...

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